Santa Cecília Rogai por nós!

Santa Cecília Rogai por nós!

Santa Cecilia nasceu pelo ano 161 ou 162 da era cristã. Provavelmente seus pais eram pagãos. Conforme a praxe pagã, seus estudos teriam começado aos 7 anos de idade, até os 15. Alguns escritores são unânimes que os seus pais tivessem morrido e ela foi educada por  outra família, que a tutelou. Aos 13 anos de idade Cecilia rece-beu o batismo cristão de Urbano, bispo auxiliar do Pontífice. As atas da época dizem que ela exercia as obras de misericórdia com os pobres da via Áppia  e arredores.
Tornou-se muito conhecida desses pobres, conforme comprova-se pelo fato de haver mandado Valeriano ao Bispo Urbano e ao passar pelos pobres dizer que era de parte de Cecilia, conforme veremos mais adiante.
Seus tutelares arranjaram-lhe o casamento, de acordo  com o costume, recaindo em Valeriano, um descendente de nobres tri-bunos. O enxoval de seu casamento foi igual ao que era usado pelas damas romanas da alta sociedade de sua época, túnica, estola e palla era como um véu que cobria a cabeça, estola cobria a túnica caindo com elegância do ombro esquerdo passando pelo braço direito formando as dobras elegantes da roupagem)
Quando foi encontrado o corpo de Cecilia verificaram que  a túnica dela era de seda com barras de galão de ouro inclusive nas mangas. Dizem que na cor verde clara. No ano 176, Cecilia, uniu-se a Valeriano. Acompanhada do tutor, pageada por meninos, um coro de músicos cantando e tocando, as melodias dóricas e eólicas, com muita gente do povo que acompanhava os cantos, ao longo do trajeto que ela passava, provavelmente os pobres e amigos dela da via Appia que muito a estimavam; Cecilia dirige-se assim cortejada à casa do noivo.
Na entrada lhe foi apresentado um vaso de cristal com água, símbolo da pureza que devia orna-la como esposa, uma chave, símbolo do governo da casa e em seguida fazem-lha sentar sobre um vello de lã com a roca e fuso nas mãos, para lhe indicar as ocupações de dona de casa. Valeriano dis-tribuiu nozes ao povo, que era costume naquela época os noivos fazerem. A festa prosseguia, com vinhos, danças e muita música, mas Cecilia baixinho exclamava, assim dizem as atas de sua vida: “Canentibus Organis, Caecilia in corde suo soli Domino decantabat dicens: Fiat cor meum immaculatum, ut non confundar” (Enquanto ressoavam as harmonias do orpheon, Cecilia, dentro do seu coração, entoava baixinho ao Senhor este cântico: “Fazei Senhor, que o meu coração permaneça imaculado, não permitais que sejam frustradas as minhas esperanças.”) (Sl.118,80) Este texto consta das Atas da santa e faz parte das vésperas do ofício do  dia de Santa Cecilia. Aqui há uma possível falsa interpretação, quando a imagem desta santa apresenta-se com  um órgão ou organeto na mão, como  se ela tivesse sido uma organista. Até que ela pode haver tido  capacidade nessas artes, pois toda jovem de sociedade daquela época era iniciada em artes inclusive da música. Mas não é por esse motivo que ela é invocada com a organeta. Isto sucede em razão do texto das Atas quando dizem: Cantantibus ou ca-nentibus organis etc.. (acima já foi mencionado) sendo mal traduzidas, pois organa era o instrumento dos músicos que animavam as festas. Essa tradução é típica do século XIV, falsa e desconcertada da realidade. Os pintores viram a frase como: “Cecilia cantando com acompanhamento de órgão.”
Retornando o esboço histórico de nossa santa, em meio as festas de núpcias ela só temia perder a sua virgindade. O autor das Atas da santa diz que ela assim dirigiu-se ao noivo: Jovem dulcíssimo e amantíssimo tenho um segredo que te revelarei, se me afirmares com juramento que o conservarás e saberás respeitar. Valeriano assegura-lhe que nada o poderia nunca obrigar a descobrir o que houver por bem confiar-lhe. Cecília continua: Tenho um anjo de Deus por amigo, o qual protege com grande zelo o meu corpo; se vir que te aproximas de mim com amor impuro, imediatamente desembainhará a espada para cortar a flor da tua juventude, mas se vir que me amas sinceramente com afeto imaculado e respeitas a minha virgindade, tornar-se-há tão amigo teu como o é meu, e derramará abundantemente, sobre ti, as graças do céu. Então Valeriano movido por um temor do céu, disse: se queres que eu acredite em tuas palavras, mostra-me esse anjo, que eu, conhecendo-o como enviado de Deus, farei o que me propões, mas, se porventura, outro homem ocupa o teu coração, tu e ele morrereis ambos às minhas mãos. Respondeu-lhe Cecilia: Se seguires os meus conselhos e consentires em purificar-te na fonte perene, se creres que existe um só Deus do céu, verdadeiro e vivo, com certeza verás o espírito celeste. Valeriano lhe argumenta: e quem me há de purificar e tornar-me capaz de ver o espírito celeste? Cecilia responde-lhe: Vai a três milhas da  via Appia, lá encontrarás um grupo de pobres pedindo esmolas aos transeuntes; eles conhecem-me muito bem pelo carinho especial com que sempre os tenho tratado; quando chegares ao pé deles faze-lhes a minha saudação (benedictionem meam) e dize-lhes: Cecilia manda-me aqui para que me leveis à presença do santo ancião Urbano; trago da parte dela um segredo que comunicar-lhe. Quando falares com Urbano, acrescentou Cecília, conta-lhe tudo o que entre nós, ficou assente; e das suas mãos receberás uma vestidura cor de neve; depois de purificado volta a este recinto e verás o meu anjo feito também teu amigo, e disposto a conceder-te tudo o que pedires. Mal amanheceu  o dia Valeri-ano partiu em demanda do  ancião. Urbano alegrou-se com a presença de Valeriano e admirou a conquista de Cecilia. Nisto uma visão extraordinária do céu iluminou o recinto e apareceu diante de Valeriano um outro ancião vestido de branco (não era o Papa) com um livro na mão e disse-lhe: Lê este texto que te aponto e crê para que possas ser purificado e vejas o anjo que Cecilia te prometeu mostrar. Valeriano, cheio de assombro ergueu os olhos e leu: “Um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus, Pai de todos os seres, que vive acima de tudo e em todos nós.” Pergunta-lhe em seguida o ancião: Crês ou ainda hesitas? O mancebo com voz esforçada responde: “nada há mais verdadeiro debai-xo do firmamento.” Desaparecera a visão e a mão trêmula do velho Bispo abluia a fronte do neófito com as águas salutares do batismo e em seguida ungia-o para confirma-lo na fé. Depois de uma rápida explicação dos dogmas e deveres cristãos, Urbano remetia o jovem de volta para Cecilia.
Valeriano, ao voltar a casa, encontra Cecília orando e junto dela vê o anjo que trazia nas mãos duas coroas de flores. Deu uma a Cecilia e outra ao esposo dizendo-lhes: “conservai estas coroas conservando a pureza do corpo e alma; para vós as trouxe do paraíso. Sinal disto é que jamais as murcharão as suas flores, jamais perderão o seu perfume, nem as poderá ver senão, quem como vós, abraçar a castidade. E porque tu, Valeriano, consagraste a Deus o teu corpo, manda-te Jesus Cristo, filho de Deus que peças a graça que for mais do teu agrado”. A estas palavras o coração de Valeriano concentrou-se no irmão que ele tanto queria prostrando-se por terra assim disse: “Nada me é mais caro no mundo que o afeto de meu irmão, e nada mais doloroso do que o ver em perigo de perder-se. Eis pois o pedido que faço com todas as véras de minha alma: concedei que Tiburcio seja como eu libertado das trevas do erro, e fazei que ambos sejamos um dia confessores do Nome de Cristo” Um sorriso celestial iluminou o rosto do anjo que lhe respondeu nestes termos: Pois o que pediste é ainda mais agradável a Cristo do que a ti próprio, como Ele, por meio de Cecília soube ganhar a tua alma, assim por meio de ti ganhará o teu irmão, e ambos alcançareis a palma do martírio” Ditas estas palavras o anjo retirou-se. Cecilia e Valeriano entretiveram-se em longa com-versa dissertando sobre todos os aconteci-mentos daquele dia e descuidaram um encontro que, previamente, havia sido marcado com Tibúrcio, irmão de Valeriano e ainda pagão, que os queria saudar em sua casa.
Tibúrcio, cansado de esperar para sauda-los resolveu vir até eles, entrou e beijou a fronte da cunhada e dizendo: “ que delicioso aroma de rosas e lírios!” Entabulou-se um grande diálogo entre Valeriano e Tibúrcio, que relutara,  admirado, frente ao irmão convertido e feito cristão. Mas, final-mente, quase convencido, Cecilia intervém, por ser mais versada nas verdades da fé e lhe fala sobre a imortalidade da alma, a criação, o mistério da Santíssima Trindade, a economia da Redenção, sofrimento e glória de Cristo e do valor do martírio. Tibúrcio deixa-se vencer pela graça divina, é levado a Urbano que  instrui e batiza-o.
Cecilia, exteriormente, levava a vida com os usos e costumes de sua época abstendo-se apenas de tomar parte nos espetáculos e cerimonias que contrariassem a sua fé.
No dia 14 de abril, Valeriano e Tibúrcio foram levados ao juiz, para interrogatório, por Máximo e seus soldados. Obtiveram permissão para serem interrogados no dia seguinte e foram dali para a casa de Máximo. Nessa noite Cecilia e Urbano os visitaram. A despedida deles foi tão comovente e cheia de entusiasmos pelo martírio, e a serenidade de Cecilia, fez com que fosse convertido Máximo e outros soldados. Os mártires prometem a Máximo que, para confirmar-lhe na fé, veria os anjos na hora de seu martírio. De fato em 14 de abril foram conduzidos ao templo de Júpiter e ali recusaram-se a oferecer sacri-fícios aos ídolos e o algoz consumou o martírio. Logo após, Máximo viu os anjos que vieram receber suas almas. Com isso declarou-se publicamente com fé cristã, sendo também martirizado depois de muitos açoites. Cecilia recolhe os corpos dos três mártires e lhes dá sepultura.
Após a morte do marido e do cunhado, Cecilia continuou ocupando-se, como abelha laboriosa, a ajudar a Igreja e os pobres.  A jovem viuva ansiava receber, também a palma do martírio e dedica-se abertamente as práticas cristãs e obras da misericórdia.
Nos primeiros dias de setembro, desse mês-mo ano, chegaram a casa de Cecilia os oficiais da justiça chamando-a para prestar adoração aos ídolos. Cecilia, sorridente, responde-lhes:” Cidadãos e amigos, ouvi: Vós executais o que vos foi mandado, mas não duvido de que, no íntimo do coração, sintais horror ao proceder desse ímpio Magistrado. Quanto a mim é gloriosa a perspectiva de sofrer toda a sorte de tormentos por confessar o nome de Cristo. Nunca tive grande apego á vida. Lastimo que na flor da idade tenhais a desgraça de ser instrumentos de juiz tão ímpio. Eles ficaram comovidos. Chorando pediram para Cecilia que não destruísse sua juventude,  formosura e as riquezas. Cecilia lhes diz que morrer por Cristo não é sacrificar a juventude mas renova-la, é dar um punhado de barro por outro de ouro, é trocar a choupana por um palácio, dar uma coisa mortal por uma felicidade sem fim. Fica-ram impressionados e pensaram: “Não pode deixar de ser verdadeiro um Deus que soube escolher e formar um coração tão generoso”, diziam entre sí.
Transcorria a data dos jogos romanos. O povo nessa época ficava louco. (como hoje na copa do mundo e outros) Cecilia cha-mou Urbano em sua casa e lá batizaram  mais de 400 beleguins pretorianos, segun-do narram com certo exagero as Atas. Em 15 de setembro ela compareceu frente ao magistrado. Depois de longo interrogató-rio, onde Cecilia teve respostas  de grande alcance retórico, foi  lavrada a sentença de sua morte, aproveitando-se das festas em que o povo estava ocupado, pois sua morte causaria  grande rumor em Roma em pre-juízo das autoridades.
Roma divertia-se, e Cecilia foi condenada a morrer dentro da casa  do marido, para que ninguém ficasse sabendo do episódio. A casa tinha relativo conforto, com salas de banho frio, morno e quente, chamada Caldarium. Encerraram Cecilia no Caldarium com vapores quentes para morrer sufocada. De tempo em tempo por ali passavam para ver se ela já havia desfale-cido, mas passaram-se as horas e toda a noite, e ela passeava de um lado e outro orando e cantando, ilesa. O Magistrado, ao saber, mandou que a degolassem aí mesmo nessa casa. Não se sabe a razão, mas os três golpes fatais do carrasco falharam. A Lei não permitia mais que três golpes.
Por três dias ela  esteve em agonia. No seu rosto havia grande paz como quem está antevendo o paraíso. As poucas palavras que pronunciava eram setas de amor dirigidas ao céu. Tentaram estancar-lhe o sangue que corria incessantemente do pescoço, mas foi em vão. Ela agradecia só com os olhos e os exortava a permanecerem firmes na fé. No terceiro dia o Bispo Ur-bano veio até sua casa. Ela disse-lhe: “Padre, eu pedi a Deus esta demora de três dias para poder entregar nas vossas mãos os pobres que eu socorria e esta casa que vós transformareis em templo do Senhor.”  Pouco tempo depois morreu, assistida pelo ancião e seu corpo foi colocado numa urna de cipreste, com a roupa como estava vestida e mais os panos com que tentaram estancar-lhe o sangue. O enterro aconteceu num túmulo ainda não bem terminado e o próprio Bispo ajudou a  ajustar a pedra que o cobria. Assim Cecilia inaugurou o cemitério que ela mesma havia mandado construir.
Pouco tempo depois o próprio Bispo foi martirizado, segundo uma versão apócrifa, pois o magistrado julgava que ele fosse o detentor dos bens de Cecilia e queria deles tomar posse. O venerando Bispo declarou que os bens de Cecilia tinham ido para amenizar os pobres. Urbano conseguiu com isto a palma do martírio.
Passados os séculos o Papa Paschoal I (817-824) no início do século IX fez transladar os corpos dos mártires para as igrejas da cidade eterna para protege-los da profana-ção dos bárbaros. Nesses translados o Papa mandou colocar o corpo de Cecilia na Basílica a ela dedicada e, por ele, nova-mente restaurada, igreja esta construída sobre a casa onde viveu a santa. (ela havia pedido que  sua casa fosse transformada em um templo)
Conta-se que procuraram muito o corpo de Cecilia, pois a esta altura não estava mais no cemitério onde o haviam enterrado. O Papa Paschoal, já desanimado, começava a pensar que o corpo da santa houvesse sido roubado pelos Longobardos. Assistindo, um dia ás cerimônias na Basílica Vaticana, sentiu-se possuir por um sono, nada ouvia dos cantos, nada via, o cansaço  dominava- o. Senão quando apareceu-lhe diante dos olhos uma visão celeste. Era Cecília que vinha agradecer-lhe o zelo com que promo-via o seu culto, e dizer-lhe que continuasse as pesquisas, pois seu corpo ainda estava na cripta. Radiante o papa manda recomeçar as escavações, sondam-se os muros. E eis que ao fim aparece o tesouro desejado no cemitério de S. Calixto. Estava ela entre os Papas, e os panos tal como narravam as atas, vestido bordado a ouro, os paninhos ensangüentados, estavam lá intactos. O Papa colocou seu corpo numa urna e sepultou-a num túmulo com os Papas Lúcio e Urbano (não o Bispo Urbano do tempo da Santa que muitos confundem com o Papa do mesmo nome.)
Em 1599 o Cardeal Sfondati, sobrinho de Gregório XIV fez nova restauração da basílica,  construída sobre a casa de Santa Cecilia, e, tendo de abrir uma parede da cela onde deveriam estar as relíquias, depostas quase oito séculos antes por Pas-choal I, vem ele próprio assistir ás obras, que se suspendiam na sua ausência. No dia 22 de outubro encontraram dois sarcófa-gos, encontrando em um as relíquias pro-curadas da santa. Correu para comunicar ao Papa Clemente VIII que estava veraneando no palácio de Mandragone, hoje um colé-gio de Jesuítas, achava-se enfermo no leito sofrendo de gota. O Papa ouviu atenta-mente a narrativa do achado e com muita alegria delegou o mesmo cardeal para proceder o reconhecimento das relíquias. Na mesma noite já estava ele lá na Basílica da santa. Surpreso, ele viu, depois de 778 anos a caixa de madeira em perfeito estado e dentro o corpo de Santa Cecília com as roupas, um tanto desbotadas pelo tempo, mas perfeitas, inclusive os bordados de ouro, o véu transparente que acompanhava a sinuosidade do corpo e indicava a sua posição. Diz o Cardeal que a “Virgem Cecília, estava como que dormindo sobre o lado direito com os joelhos ligeiramente encolhidos por modéstia, inspirando-nos um respeito tão grande que ninguém se atreveu a descobrir o seu corpo. Vimos, reconhecemos e adoramos; na manhã seguinte celebrei a S. Missa diante do seu corpo e voltei a anunciar ao Pontífice tudo o que observara.” Pouco mais adiante quando fala da visita do papa Clemente VIII, louva o recato do Papa, que não quis levantar os vestidos para ver seu corpo, apesar de estar ressequido, pelo respeito que inspirava. Outros dados dizem que o forro do caixão era  verde, desbotado os vestidos de Cecilia tinham manchas de sangue e eram recamados de ouro. Dizem que ao tocar no seu corpo encontraram o cilicio duro na sua cintura. Estava Cecilia, Valeriano e Tibúrcio no mesmo local. O corpo de Tibúrcio estava sem a cabeça, que o Papa Paschoal havia mandado colocar em um relicário que ainda se conserva até hoje na Igreja. O de Valeriano tinha semelhan-ças com o do irmão, impossível de atribuir a outro. O outro corpo com cabelos brancos, manchados de sangue atesta ser do velho Máximo. A cabeça deste ainda estava ligada ao corpo, a de Valeriano estava separada, o que devia ser assim, por ter sido degolado, o velho tinha sido martirizado por açoites, como atestam as atas. Clemente VIII, mandou fazer uma arca de prata para nela encerrar a urna da santa.
No dia 22 de novembro desse mesmo ano, (1599) com festejos  e uma pompa extra-ordinária, a santa que durante esse mês vários milagres havia feito, foi depositada no caixão de prata e transportada para a cripta e colocada num sepulcro de mármo-re, oferta de Sfondati. O respeito e a veneração que a virgem incutia fizeram que ninguém ousasse tocar o seu corpo para dele tomar relíquias; só se conservaram alguns dos panos ensopados no sangue e uma pequeníssima parcela do vestido cortada por Sfondati.
Não existem ossos de S. Cecilia, como relíquias uma vez que seu corpo está intato. Pode existir relíquias de uma outra Cecilia que também tem fama de santidade e dizem haver sido exíminia tocadora de lira, uma excelente dona de casa, exemplar como esposa, muito bela, filosofa chamada Cecilia Metella, foi casada com Pompeu Magno, conforme narra Plutarcho (lê-se: Plutarco)
Deduzimos, igualmente, que muitas alu-sões a Santa Cecilia até na oração dedicada a ela, sejam confusão com essa outra Ceci-lia. Por isso não concordamos com a oração, que perpassa a piedade do povo, quando diz: “... modelo de esposa...” etc. Na verdade a nossa santa não foi “modelo” de esposa como tal, ela não viveu marital-mente com o esposo, não teve relações íntimas com ele e, ao que consta pelos escritos das velhas Atas, viveram muito pouco tempo juntos, desde o dia do casamento até o martírio. Ela foi uma virgem consagrada ao Senhor e, por esse motivo, agraciada com a presença de um Anjo do Senhor, que a presenteou com uma coroa de rosas  para ela e outra para Valeriano. Levaram, ambos, uma vida virginal, pois Valeriano apesar de ser pagão era mancebo, conforme os costumes de seu tempo. É bom saber que o casamento de Cecilia com Valeriano não foi cristão, se-guiu um ritual do paganismo, não por vontade dela, mas por estar integrada numa sociedade pagã, levando sua vida religiosa cristã, às escondidas, pratica-mente.
Cecilia, por sua caridade e por sua consagração, foi verdadeira monja convivendo no mundo para mostrar o Cristo pelo amor aos irmãos e a dedicação aos pobres e deserdados.
A Basílica - É muito antiga. No Concilio  reunido pelo Papa Symmacho no ano 499 já havia um participante com o titulo de Sanctae Caeciliae. O Papa Vigilio foi preso na Basílica de Santa Cecilia em 545 no dia 22 de novembro, quando presidia os Ofí-cios solenes de sua festa, precisamente por Anthemo, enviado do Imperador do Oriente. No Concilio convocado por Gre-gório Magno em 595 outro presbítero sob o titulo de Santa Cecilia assinou a Ata. Escavações no início o século XX concluí-ram que a Basílica foi construída em um nível mais baixo e seria um pouco menor. Com certeza já havia uma basílica dedicada a Santa Cecília antes de Constantino. O Papa Calixto, que empreendeu a construção da Basílica de Santa Maria, mandou, provavelmente, principiar também a Basílica de Santa Cecília e assim como aquela foi consagrada por Urbano, sucessor de Calixto, por ter sido concluída no seu pontificado, também a igreja de Santa Cecília. Não há dúvidas que a atual Basílica foi construída sobre a casa  residêncial da santa, aliás, foi um pedido dela antes de morrer, que sua casa fosse transformada em igreja. O Papa Paschoal I, antes de transla-dar as relíquias dela, reconstruiu a Igreja com mais opulência e maiores dimensões, dotando de imagens, altares, vasos sagrados e paramentos. Essa Basílica é chamada Basílica de Trastevere.
A Liturgia Ambrosiana de Milão e a mosa-rabe de S. Isidoro, também trazem Missas  e hinos dedicados a Santa Cecília.
O Bispo Adhelmo no seu livro “De Virgini-tate” (século VIII) faz uma menção de que, a devoção de Santa Cecilia vem logo depois da devoção a Virgem Maria, apresentando- a como modelo das Virgens.
Em 696 S. Willibrod, apóstolo dos Frisões, quis receber a sua Sagração Episcopal na Basílica de S. Cecília, pela grande devoção que lhe tinha. Pouco tempo depois de 873 o arcebispo de Colônia Williberto, na consagração da sua Catedral, unia o nome de Cecília ao dos outros dois padroeiros do templo: Nossa Senhora e S. Pedro. Por essa época erguia-se na Espanha em Montserrat o Mosteiro beneditino e punha-se debaixo da proteção da Santa.
Muitas são as igrejas famosas dedicadas a Santa Cecilia, entre elas a Catedral de Albi na França, reconstruída pelo bispo Bernar-do Chatenet em 1282.
Santa Cecília, é padroeira dos músicos e da música em razão das palavras da primeira antífona das Laudes e das vésperas do ofício de seu dia: “Cantantibus organis Caecilia Domino decantabat dicens: Fiat cor meum immaculatum, ut non confundar”.  Os pintores de sua imagem pouco versados em latim, provavelmente, interpretaram como: “Ceci-lia cantando com acompanhamento de órgão,” como já ficou dito antes; mas nada tem a ver, pois não há nenhuma prova que ela fosse tocadora de órgão ou cantasse com esse instrumento em alguma passagem de sua vida, que até pode ter acontecido, pois os organa  eram músicos que acompanha-vam os festins e certamente no dia de suas núpcias, tal narram as Atas, lá estavam tocando e ninguém duvida que ela cantasse junto.
Cantora de Deus, na sua virgindade, sua vida já foi um belo poema e grandioso hino ao Senhor e com justa razão pode ser declarada, patrona de todos aqueles que desejam louvar e proclamar as grandezas de Deus, realizadas nas criaturas que são Obra de Suas mãos.